EXCERTOS DO FILME A CONSIDERAR:
O filme tem um personagem omnipresente que passa por ser a acção da polícia que, no nosso entender, simboliza o próprio regime politico – o Estado Novo –, que tudo controla e tudo vê, a própria ordem dos regimes de direita. A personagem imprime o carácter ditatorial ao regime e ao filme, pois não existe uma visão plural e democrática. A visão plural é nos dada no princípio do filme em que surge César Valente, sujeito subversivo que quer trazer novos ventos a Portugal, e a polícia do regime que procura combater esse mal, porém aguarda que as alterações que aquele observa na sociedade sejam suficientes para que César Valente se submeta ao regime e concorde com o projecto de uma revolução continuada, tendo o seu princípio em 28 de Maio de 1926. Ambas as visões são complementares para que a história funcione, o caos procura destronar a ordem, porém a ordem vence e absorve os radicais ao regime. Pois o filme retrata o Estado Novo nas suas virtudes inquestionáveis.
00.00 – 4.00 – Europa em guerra, instabilidade, Portugal em paz.
26.40 – 37.34 – Tipografia "Liberdade" onde funciona a base dos subversivos; recebem mensagens por código morse e fazem jornais clandestinos.
Diálogos: a revolução quer espelhar-se numa classe que não quer uma insurreição mas antes revolução que conduzirá à mudança; pretendem com a revolução neutralizar a data de 28 de Maio, data do golpe militar de 28 de Maio de 1916 que colocou fim à experiência republicana em Portugal; evidência a forma como se organiza a revolução e como funciona o boato no meio cultural português, onde vigora a censura, esta realiza o controle da informação que deve vir a publico.
37. 34 – 39.15 – Mostra as obras do Estado Novo: os novos bairros, sinonimo de melhores condições de vida; o Instituto Superior Técnico e o Instituto Nacional de Estatística (INE), obras, que como são mostradas ao espectador revelam a sua opulência e grandiosidade, dada a pequenês do homem, sobretudo quando César Valente entra no INE.
39.30 – 46.08 – Passa uma relação estatística que invariavelmente é introduzida, de forma cómica, pelo personagem Barata e o seu interlocutor. Os temas são o desemprego, Portugal possui 0,6% relativamente à Europa é o mais baixo; seguem-se outras estatísticas relativas ao ensino, plantação de árvores; a economia, com a explorações de conservas, o término com a "divida flutuante", a baixa de juros, o aumentos das poupanças, tudo comparado com o existente em 1926 e 1933.
59.32 – 1.02.10 – A importância da rádio para ocupar os tempos livres da população e como se fazia nos anos 30, rádio com artistas ao vivo.
1.11.42 – 1.16.17 – Métodos policiais; a polícia tem informações de todos os cidadãos.
1.17.00 – 1.20.40 – Obras do porto de Leixões.
1.36.06 – 1.42.32 – Festejos do primeiro de Maio no norte do país, trata-se de um desfile etnográfico em que evidencia o outro lado do Portugal da época, vocacionado para a ruralidade. Pode-se apelar aos alunos para mostrarem os contrastes de desenvolvimento de Lisboa e do resto do país. Nesse cortejo surgem cartazes com chavões do Estado Novo: surge primeiro "Fortuna" seguido do "Corporativismo"; outro mostra que "a verdade tem o seu brilho, a justiça tem o seu peso"; o epítome mais comum do Estado Novo "Tudo pela Nação, nada contra a Nação"; surge a cruz que foi usada como símbolo durante a vigência do Estado Novo; e, por fim, "ordem, trabalho em prol de Portugal".
1.44.01 – 1.46.30 – Maria Clara questiona e pede a César Valente para deixar viver em paz os outros e não espalhar o seu mal à sua volta. César Valente começa a ter dúvidas sobre os benefícios da revolução, que simboliza a mudança, mas incerta; olha ao redor, sobre Lisboa, como se desenvolveu, com o barulho de fundo de alegria das crianças de uma escola primária.
1.47.28 – 1.54.15 – Imagens da tipografia "Liberdade". Canta-se uma canção enquanto pegam e admiram as armas a usar na revolução. O protagonista traduz a letra da canção para os demais, cujo significado é revelador que a revolução não leva a nada só estraga o sonho e a obra feita, neste caso deve ler-se a obra mostrada ao longo do filme do estado Novo. A bandeira que César Valente deve colocar no local mais alto da cidade de Lisboa, como sinal do início da revolução, é vermelha – terá conotação comunista? A seguir mostra a acção da policia para prender os insurrectos.
1.54.15 – 2.00.05 – Reflexão de César Valente se colabora com a revolução ou não. Surgem imagens de uma hipotética guerra civil. Quando é erguida a bandeira de Portugal, César Valente, tira o chapéu em sinal de respeito, sinal que se converteu à causa do Estado Novo.
2.00.14 – 2.12.22 – Mostra-se a comemoração dos dez anos do 28 de Maio, celebrações realizadas em Braga. Surgem as figuras históricas do regime Óscar Carmona, Presidente da República, e António de Oliveira Salazar. Ouvem-se palavras de ordem como "Queremos Salazar" e lê-se "A revolução contínua". Dês seguida a população e os militares desfilam junto ao palanque em que estão as figuras do Estado. Pouco depois ouve-se o discurso de Salazar que se poderia intitular "o início de uma nova era" cujas palavras fortes são " não discutimos Deus e a virtude, não discutimos a pátria e a sua História, não discutimos a autoridade e o seu prestígio, não discutimos a família e a sua moral, não discutimos a glória do trabalho e o seu dever" que simbolizam os pilares em que assentou a edificação do Estado Novo. Quase a finalizar o filme Barata surge mais um companheiro no café e ouve-se a dizer "Agora é que o país vai entrar nos eixos".
Justificação da escolha do filme e porque motivo irá ser passado na íntegra com enfoque para os excertos seleccionados.
O filme é um exemplo de propaganda ao regime e não esconde esse princípio, logo no início surgem as imagens retiradas de documentários e fornecidas pelas entidades o Secretariado da Propaganda Nacional e o Ministério da Agricultura. Todavia não deixa de ser visado pela Inspecção Geral dos Espectáculos – leia-se censura.
É um filme que retrata época e as vivências quotidianas em que surgiu o Estado Novo. Pela a análise dos excertos atrás referenciados mostra-se todas os princípios ideológicos do regime fascista português: a ruralidade, a pátria é inquestionável, o corporativismo, o trabalho, a família, a presença de Deus…
O filme – Revolução de Maio – deve ser mostrado na integra em virtude da história por trás da propaganda, caso contrário não se entende essa dimensão. Assim, retrata-se a história do amor que nasce entre Maria Clara e César Valente e as mudanças ideológicas que esta última personagem tem ao verificar as alterações introduzidas, no espaço de dez anos do novo regime político.
Contexto da projecção e exploração do filme e objectivos e avaliação
No 9º ano de escolaridade, dado a limitação de tempo para proceder à execução dos conteúdos programáticos teriam de ser passados os excertos seleccionados, que pensamos não desvirtuar a história do filme. O visionamento dessa forma iria permitir interrupções para esclarecimentos adicionais, fazer ligações com os conteúdos a leccionar, aproveitar-se-ia para introduzir a análise documental do manual adoptado e originar debate na sala de aula. Uma ficha detalhada de visionamento teria de ser elaborada com base nos excertos seleccionados associando documentos que permitissem a análise dos princípios ideológicos fundadores do Estado Novo. Nessa mesma ficha de exploração deveria existir questões que evocassem o filme, por exemplo as questões estatísticas, a posição que Barata, personagem do filme toma, quando denúncia à policia senta-se numa posição mais baixa que o policia, apelar ao significado dessa mensagem, as mensagens que os cartazes transmitem no cortejo etnográfico e no cortejo da comemoração do décimo aniversário da revolução em 28 de Maio, discutir o significado da revolução para o Estado Novo, é idêntica aquela que transparece com o 25 de Abril… deixar questões em aberto para que os discentes reflictam sobre o sentido do filme. Nem todas as questões seriam resolvidas na aula, pois procurar-se-ia desenvolver a competência de comunicação em História para realizarem um comentário, por exemplo ao discurso de Salazar, essas mesmas questões seriam alvo de avaliação quantitativa e não qualitativa, aquando da participação oral dos alunos.
O objectivo do visionamento no 9º ano de escolaridade seria a leccionação mais motivada do conteúdo inicialmente estabelecido.
No 12º ano de escolaridade a exploração passaria por mostrar todo o filme, em aula, pois existe tempo para o efectuar, após a leccionação do conteúdo programático. A realização de uma ficha de visionamento idêntica à anterior, porém mais vocacionada para a explicação das questões e relacionamento dos assuntos, por exemplo, o papel da polícia no controle dos cidadãos; outra vez, a ideia de revolução da década de 30 do Estado Novo e a sua própria ideia; solicitar a pesquisa prévia sobre as personagens históricas que entram no filme, general Óscar Carmona e António de Oliveira Salazar – os argumentistas Baltazar Fernandes (António Lopes Ribeiro) e Jorge Afonso (António Ferro), ocultos por pseudónimos, explicando as razões desse facto; realizar um comentário ao filme tendo por base os argumentos Propaganda – suporte dos regimes autoritários… Perante esta densa exploração suportada pelo filme conclui-se que seria avaliado de forma a reflectir-se na performance dos alunos. O objectivo seria de consolidação de conteúdos, mas com tamanhas tarefas prévias e a seguir ao visionamento suscitar-se-ia mais a construção do saber mais aprofundado sobre a época em questão – o Estado Novo.